Após quase 4 meses, consegui criar estes rabiscos. A pergunta é: o q virá agora q estou só? Um pouco antes do meu último post, em 6 de junho, foi uma maratona de exames, depois internação, cirurgia, longos dias de espera e visitas diárias na UTI, e ele partiu em 2 de agosto. Quem perde sabe o vazio q fica. E a paralisia q vem, embora o mundo aí fora continue igual. Oi, marido!, tchau, marido!, eu costumava chamá-lo assim brincando, agora olho em direção às estrelas e me sinto suspensa no ar. A vida continua, me dizem. Saber eu sei…

O q fazer com nossos saberes? Nem sempre a gente sabe. Agora, por ex., não sei. Ainda me demoro na varanda olhando um ponto lá longe, como qdo eu contava as horas até a próxima visita na UTI, depois ando errática pelo apartamento, insisto em permanecer no ateliê mesmo sem produzir, e acabo a noite, invariavelmente, esparramada no sofá em frente a tv. Penso nas pessoas q em algum momento precisaram de um recomeço após uma tragédia, uma separação, uma morte, uma cura de alguma doença grave, e me sinto estranhamente normal, banal até.

O pior já passou ou está por vir? O destino fica quietinho. Ou é minha cabeça cheia de ruídos q não ouve resposta alguma. Mas acho q uns pequenos solfejos da vida q me espera estão por aí, devem ser como a inspiração, talvez. O artista plástico Luiz Paulo Baravelli me disse, certa vez, q a inspiração não vem de golfada guiando a mão do artista, pode ser um mínimo sinal q a gente tem q estar atento pra perceber. Atenta, eu? Só qdo estou absolutamente concentrada e isso não tem me acontecido. É o estado do luto, dizem. Ruminar a perda até q ela se transforme em saudade boa. Será mesmo? Mami diz q sim. Mas eu preferiria q o Lu estivesse andando por aqui, nem precisava ser comigo, mas andando em algum lugar deste mundo. São os desígnios do alto, dizem…

Bom q não consigo ficar em paz no meu silêncio. Há providências mil q dependem de mim, as contas não param, a vida cobra seu preço habitual. E há os amigos e as msgs, mtas mesmo, ainda não respondi a todas, mas q me confortam de uma maneira inexplicável. E há os q furam o bloqueio da minha reclusão e me proporcionam momentos únicos: comidinhas deixadas na portaria, um livro, flores e ervas, visitas q ou trazem o jantar ou me convencem a sair pra comer, e telefonemas longos, como os de minha irmã Lina, q nesse período tbem bateu recorde na ponte aérea de São Paulo pra cá e esteve mais comigo do q lá, como se a vida dela estivesse um sossego só, e não está. Sinto q nascemos grudadas.

Quase perdi este blog desatualizado, q está hospedado na nuvem e há q se pagar por isso todo mês, e eu sem pagar há uns 3, ele fora do ar, claro, até q recebi o último aviso de remoção definitiva, paguei rápido e cá estou. Sinal de q me importo, essa sensação me dá alento. Sim, me importo especialmente com meu filho Dan, q se tornou forte e companheiro e, de lá de Londres, mas sempre perto, conversa comigo no sentido de me tranquilizar e q eu retome a vida, e vai soltando minha língua e as palavras guardadas… Penso q ele procura me poupar da própria tristeza, desconversa, diz q está bem…

Dizem tbem q o melhor q podemos dar a alguém é o nosso tempo. Mas cadê o meu?, parece escorregadio, me escapa. Não é esse tempo organizado pelo relógio, as horas se perdem enqto cumpro uma ou outra tarefa obrigatória pra poder voltar ao imobilismo. Tudo em cheque. Como se eu estivesse repensando profundamente a própria vida, mas, na real, sem conseguir fixar o pensamento em absolutamente nada. Dar um tempo deve ser isso. Parece q venta sobre o tempo, ele fica pra lá e pra cá… É como se o visse da janela. É um egoísmo desconfortável de sentir, não há paz, não há tempo pra dedicar a nada e a ngm. Às vezes choro por isso. Choro tbem sem saber pq. Conheço um monte de chorões, então acho até q choro pouco.

Cadê eu? Cadê aquela q vivia dizendo q foi criada lá atrás como menino, pra ser forte, suportar, não se deixar abater? Somos todos frágeis por dentro, isso é q é. Até os últimos machões q conheço já vi se desmancharem no sofrimento, nunca mais quero repetir por aí q sou forte.

“É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte”, lembro dessa música, eu era jovem e concordava total. Tropeçava nas dores, engolia o choro e, numa espécie de birra, levantava querendo vencer. Hj nem sei cadê eu, e vencer fica relativo. Viver vai mostrando q vencer ou ser vencido é uma dada possibilidade, e o q dói mais é qdo não temos felicidade. Qdo ela vai embora ou não vem ou não se tem.

As vontades. Mami, Lina, Dan e os amigos dizem mais ou menos igual, q as minhas vontades só estão embotadas por causa da solidão q invadiu o espaço delas, mas q essa aí vai passar como os temporais passam. Aí serei eu comigo e a vida cheia de gente pra viver. Tenho tentado fazer uns exercícios sem pé nem cabeça. No caos dos pensamentos. Mas tenho tentado.

Mudar em busca daquela vida mais simples e minimalista q já vinha me sondando e qdo? Viajar mais ou só ir pra Londres toda vez? Retomar as pinturas e esculturas diariamente como antes ou diminuir o ritmo? Prosseguir com a criação digital no iPad? Viver o luto até q ele amenize sozinho ou buscar as pessoas? Aceitar q convites? Aprender finalmente a cozinhar? Ler mais? Menos Facebook? Mais vídeos? Ficar em forma? Repensar o blog? Outros interesses? Parar de fumar esse cigarro q já me trouxe um CA de mama, quase um CA de tireóide e levou o Lu. Só isso q eu sei. E q quero estar viva e descobrir pq, mesmo q aos pouquinhos, um dia após o outro.

Por enqto, levanto e caio, percebo meus próprios limites e me assusto, começo coisas e fraquejo no meio. Não sei o q virá, mas se há vida pela frente, como dizem, isso eu quero, ser de verdade. Neste mundo q vale a pena pelas pessoas q fazem parte dele.

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13 comentários

  1. osmani costa

    Querida Regina: obrigado por tudo de bom e de importante que você (com suas artes, alegria e este texto lúcido e lindo) e seu marido (com sua medicina, militância e humanismo) já fizeram por tantas pessoas, conhecidas e desconhecidas. Como nunca fui íntimo de vocês, fico aqui do meu cantinho torcendo para que a sua dor passe o mais breve possível. Abraços apertados e beijos carinhosos!

  2. Regina mello

    senti cá dentro.
    Regina. a tristeza fica pra sempre. De vez enqto vai chorar ainda. Mas o tempo e que vai levando esse luto. A gente nem percebe. Qd ve ja foi.
    Não se cobre nada. isso é importante. Saiba q neste momento de dor latente ainda vc pode td. chorar. gritar. deprimir…ser e fazer o q bem entender.
    Depois passa. Saiba tbem e com tds certeza….vc vai voltar….n se preocupe c isso. Por enqto viver o luto é extremamente importante. Assim como a hora de sair dele vai chegar e vc vai saber a hora.
    um abraço demorado dessa amiga que vc nem conhece.

  3. Maeve Mendonça

    Querida, as palavras (minhas) sobram……….estou contigo em pensamento. Um beijao e um abraço de urso

  4. Gigi

    Regina, vejo no seu texto a ânsia da busca por uma resposta. Ela vem. Tenha certeza disso. Quanto a perda, essa vai ser sentida sempre. O tempo passa, a dor vai diminuindo aos poucos, mas a saudade fica. Já lidei com muitas perdas, mas até hj elas teimam em se fazer presentes de vez em quando. Ficam as boas recordações, o bons momentos, a vida passada juntos, vocês dois.
    Não somos amigas íntimas, mas senti vontade de escrever para você. Conte comigo nas boas vibrações.

  5. maria cristina toledo azzolini

    Doeu, Re! Em mim, em quem te conhece, em quem conheceu o Lu. Em quem ama, em quem é forte ou fraco, em quem quer a vida pulsando, seja aonde for! Uma dor infinita, mas dizem que ameniza. Não, não acho que ameniza, acho que cola na gente, vai se infiltrando e se torna parte de você, que se habitua com ela e não briga mais. Ela fica lá, você começa a ter paz, até que ela volte, com força, te arranca lágrimas que vem do teu âmago, do teu ventre e te faz soluçar de novo, a ver os vazios da alma e da casa. Mas você acostuma e te faz feliz saber que a incorporou. E então, você percebe, com clareza, que as luzes de tua vida, de teu passado, vão se apagando, aos poucos, para sempre. Mas deixam um rastro tão grande, que você a procura, como uma dor que cura, sempre que dores novas te atormentam! São elas que continuam a alimentar tua vida. São luzes que se apagam para os outros, e se acendem no teu coração, e brilham para sempre, como as estrelas!

    -1
  6. Guardo um fragmento: “Quer o estar viva”. Isso já me deixa tranquila pq sei que é de vida que vc entende. Beijo grande e to sempre aqui, ó, só de olho, ouvidos e coração. 💗

  7. José Santana Filho

    Regina, suas palavras chegam cheias de vitalidade, e como é bom. Tristeza sim, luto, incertezas, perda, mas percebo que você se mantém na vertente da vida, e será essa vertente, aliada ao tempo, o que irá reergue-la, apresentar, esclarecer e iluminar o caminho à frente. Não se exclua dessa vereda por onde sopra o vento. O vento vital.

    Todo o bem. Forte abraço.

    Santana

  8. Luiz Carlos BRUSCHI

    Pasmo. Acho que poucas vezes vi um enfrentamento tão lúcido das dores. Dividida a seguir em frente e querer ficar no passado, Regina você me deu mostras de uma tremenda personalidade, cheia de amor, repleta de vida e com direito a seguir em frente com muita ousadia. Só o tempo permitirá fruir da vida uma outra vez e experimentar novas e inspiradoras alegrias. Meu sincero abraço.

  9. Sonia Weil

    Que você fique bem, Regina. No seu processo. No seu tempo. Do seu jeito. Beijo

  10. Raimunda

    Show Regina, Bela reflexão sobre a vida, sobre as angústias que sugam todo o entusiasmo de viver. Mas à tristeza da dor deve-se sobrepor à vontade de viver. (E td o que isso possa significar)

  11. Amo vc do fundo do coração, da alma, com brisas e temporais. Estou com você e por você. Tudo acontece no tempo…. e levamos, cada um, o tempo que for preciso. Vc é sensível e inteligente e encantadoramente presente e amiga. Companheira de fé dessa e de outras vidas. Verás…. muito. Tens a mim e a tanta gente que conquistou e continua a conquistar. Deixe-se levar…. um dia após outro. E num deles, um belo momento, perceberás que a vida já é boa, leve, alegre, cheinha de conflitos (sempre…. rs) e de descobertas… eba! Assim é…. bj

    • Regina Menezes

      Lina, confio e acredito total em vc, mana, e em sua incrível capacidade de estar junto e me tornar forte, a vc o meu amor maior e gratidão sempre e a torcida pra q sua vida seja aquela plena, q te faça feliz total.