Cheguei de Londres e só então senti falta: cadê a banquinha de flores e a pequena mercearia aqui perto de casa? Não existem. Moro num bairro relativamente novo, a cada semana parece surgir mais um prédio de apartamentos, já tem point de comes e bebes, o comércio elegante chega e um outro big shopping está quase pronto. Mas, vai ter banquinha de flores, a pequena mercearia onde o próprio dono fica no caixa e a gente fica amiga dele, uma barbearia, oficinas de consertos de relógios, calçados…? Penso q não, os aluguéis são altos, dizem. Acho quase uma ironia q a cosmopolita Londres, mesmo com o metro quadrado mais caro do planeta, tenha tudo isso. E mais: os londrinos parecem ter orgulho e prestigiam as pequenas portinhas do comércio de seu bairro.

Estive em Londres entre maio e junho, sempre opto por um flat alugado, prefiro a sensação de ser moradora do q hóspede num quarto de hotel. Na terceira compra na mercearia próxima, o sr. Ualid me fez sentir íntima, notou q eu levava a mesma bolacha pela segunda vez, e lembrou-me q eu estava esquecendo da coca. “Two, right”?, perguntou, já sabendo. Por aquela atenção passei a notá-lo mais, e as fotos dos familiares junto dele, e nos cumprimentávamos gentilmente todas as vezes em que eu descia do ônibus no ponto em frente. Relações humanas de primeiro grau.

Alguém pode dizer: ah, mas aqui a gente tem as modernas lojas de conveniências junto aos postos de combustível e até dentro das farmácias, e os supermercados estão por toda a cidade. Sim, eu tbem elogiava essa praticidade. Até q descobri a delícia de andar pela calçada, em Londres, e ser surpreendida, a todo momento, com frutas frescas ao alcance da mão em mercadinhos convidativos, ou pelo aroma das banquinhas de flores em buquês da mais elegante simplicidade. Sentia prazer em espiar, pelo vidro, alfaiates e outros artesãos trabalhando no interior das oficinas, e passar por pequenas padarias, restaurantes e cafés com mesinhas na calçada, e barbearias e salões de beleza com jeito de estarem ali há mto tempo…

Aí me dou conta de q eu estava em viagem de férias. De volta à vida real, não uso ônibus nem metrô, não ando pelas calçadas, a maioria dos pequenos serviços tornou-se inviável com a presença das grandes redes, faço tudo de carro e, enqto abasteço, aproveito a praticidade da loja de conveniência do posto. E, como cantou Arnaldo Antunes, “a modernidade agora vai durar pra sempre, dizem”… Há o q comemorar, claro. E o q lamentar tbem.

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4 comentários

  1. marasallai

    Ah!! Perto de casa tem um supermercado relativamente pequeno. O meu favorito.
    mas tem uma grandão que vende flores do mesmo jeito. Buquezinhos prontos e lindos.

    • Regina Menezes

      Q bom, Mara! Aqui não há flores nos supermercados, e as floriculturas estão ficando raras…

  2. lina

    Amei seu posto de hj! Assim tbem me sinto. A modernidade com suas conveniências inibe as delicadezas individuais! Dirá os pequenos empreendimentos…