Não há garantias. É o processo criativo, e acho muito curioso. Primeiro é o nada, uma tela em branco, e uma sensação de pavor q a gente domina mais ou menos. De repente, é como uma pequena nuvem de ideias e sensações indicando direções. É preciso entrega, concentração e, no meu caso, recolhimento, porque, às vezes, são sensações mínimas, como pedaços de palavras q, se a atenção faltar, elas também vão embora. Começo uma tela assim, em busca do desconhecido q vai se tornando conhecido…
Não há garantias mesmo. Mas, se, arbitrariamente, sou eu quem começo a preencher uma tela (foto acima, à esquerda), a coisa toda se inverte em dado momento, e nunca sei dizer qual é esse momento. A tela passa a reger os próximos passos, como se dissesse do q precisa. Como se me indicasse o q fazer. Claro, meu olhar tem q estar super atento pra “ouvir”… Só sei q, nesses momentos, se há música rolando não ouço mais, o telefone pode morrer de tocar, não há mais ruídos em torno, só uma intensa movimentação interna. É uma espécie de paz, mas cheia de ansiedade e com picos de desespero silencioso, acho q é como estar num labirinto certo de q vai se encontrar a saída, mas com aquelas emoções tortuosas, medo, raiva, autoconfiança, indecisões, q vão se alternando, remontam uma na outra, até q vai ficando só uma sensação boa, uma vontade de rir, uma alegria (foto acima, à direita)… É quando tenho uma espécie de antevisão da tela pronta, mesmo q ainda falte muito por fazer. É como se fosse uma imagem nítida, mesmo sem ser.
É um momento de felicidade calma. A saída do labirinto. A partir daí, o trabalho cerebral diminui, o braçal prossegue, aí então meus ouvidos ouvem a música q está tocando, meus sentimentos despertam pra tudo o q está ao redor, já ouço e posso atender ao telefone, interrupções não comprometem. Ahá, mas, na saída do labirinto, mora o perigo final: qual é o momento de parar (foto maior)? Às vezes, isso é óbvio, claríssimo. Em outras, nem tanto… Já caí muito nessas armadilhas. Hoje, quando fico em dúvida, simplesmente domino a ansiedade e paro o trabalho. Vou pro facebook, ver meus e-mails, responder ligações, ler. Até q eu tenha a resposta.
Adoro este assunto, o processo criativo. Aliás, sobre isso há um livro maravilhoso q, uma hora dessas, quero falar dele aqui. Esmiuça a gênese da criação de cineastas, pintores, compositores, escritores, poetas, gente q deixou um legado bacana pra nossa cultura.